A presença feminina na tecnologia: os desafios e a visão de Cristina Boner
O mercado de tecnologia no Brasil enfrenta uma escassez preocupante de profissionais. Estimativas do setor apontam que o país terá um déficit de mais de 800 mil profissionais de TI até 2025, segundo a Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação). Nesse cenário, a presença feminina é ainda menor: apenas 20% dos profissionais de TI são mulheres, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA).
Em um evento recente sobre tecnologia, Cristina Boner, uma das empresárias mais influentes do setor no Brasil, abordou o crônico déficit de profissionais de tecnologia da informação (TI) e destacou o baixo percentual de mulheres ocupando esses cargos. Com falas incisivas, Boner chamou a atenção para o desequilíbrio de gênero em uma área que enfrenta uma alta demanda por mão de obra qualificada.
Segundo Cristina Boner, o déficit de mulheres na tecnologia não é apenas um reflexo de escolhas individuais, mas de barreiras culturais e estruturais. “Tem que haver uma mudança cultural. A área de tecnologia exige muita disponibilidade. Por quê? Porque realmente os sistemas dão problemas. A gente tem que ter disponibilidade para trabalhar à noite, fim de semana. É uma área muito pressionada por prazo, por entrega”, afirmou.
Ela destacou que essa realidade se agrava para as mulheres devido à desigualdade na divisão das tarefas domésticas. Dados recentes do IBGE confirmam essa desigualdade: enquanto as mulheres dedicam, em média, 21 horas semanais a atividades domésticas, os homens contribuem com apenas 10 horas. Essa carga adicional dificulta a entrada e a permanência das mulheres em setores que exigem alta flexibilidade e disponibilidade.
“Ou as mulheres trocam o horário do dia para a noite, no trabalho, ou vice-versa. Mas a mudança tem que ser cultural”, enfatizou a empresária Cristina Boner.
Boner também defendeu a criação de iniciativas voltadas para aumentar a participação feminina na tecnologia. “O que eu venho propondo? Que existam movimentos de incentivo para a mulher entrar no mercado de trabalho e tecnologia”, disse. Para ela, as mulheres possuem qualidades que as tornam especialmente competentes no setor. “Elas são dedicadas, detalhistas, extremamente leais e cumprem prazos. O problema que mais atrapalha é a atividade doméstica.”
Cristina Boner acredita que mentorias e programas voltados para capacitação são essenciais para mudar o panorama. “A gente tem que trabalhar mentorias, programas de incentivo, colocar a mulher mais absorvida no contexto da necessidade dela num grupo para fazer uma mudança para o mundo”, declarou.
A empresária encerrou sua participação no evento com um apelo por uma transformação social ampla. “Precisamos mudar como a sociedade enxerga o papel da mulher no mercado de trabalho. A visão de que a mulher não é capaz de ocupar cargos de alto nível em TI é ultrapassada. As mulheres têm competência de sobra, mas precisam de suporte para enfrentar os desafios estruturais.”
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