Mulheres em Movimento resiste ao tempo

Você conhece um grupo de ginástica feminina, com quase 2,5 mil participantes, entre 16 e 94 anos, e que além de exercícios físicos, também acolhe, realiza passeios culturais e de lazer e ainda luta pelos direitos das mulheres e da cidade? Vou apresentá-lo: é o Mulheres em Movimento de Diadema, que amanhã, terça-feira, 21/9, completa 32 anos de atividade e, desde agosto passado, por meio do decreto municipal 7981, tornou-se programa de política pública no Munícipio.

Para celebrar a data e toda essa caminhada, às 15h, no mesmo dia 21/9, na Câmara Municipal de Diadema, será realizada sessão solene em homenagem ao Mulheres. Além de autoridades e convidados, haverá apresentação de música, dança e vídeo sobre o programa que já ganhou prêmio e foi motivo de tese na UNICAMP.

No ano de 2009, a ação municipal recebeu o prêmio "Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social", do Ministério do Esporte e, em 2004, virou dissertação de mestrado na Universidade Estadual de Campinas. Com o título "Mulheres em Movimento: Identidade Coletiva e Subjetividade nas Práticas Culturais de Lazer na Cidade de Diadema", o trabalho acadêmico foi realizado pela professora Maria Cristina Cavaleiro.

A secretária de Esporte e Lazer de Diadema, Luciana Avelino, que também já foi professora do programa, afirma que o Mulheres em Movimento não é só ginástica: "É uma política pública de incentivo à cidadania para que as mulheres de Diadema tenham mais qualidade de vida, conscientizem sobre seus direitos e tenham lazer e cultura" .

Ela explica que o Programa se desenvolve em um tripé, formado dos seguintes eixos: saúde da mulher, com a prática de exercícios físicos regulares e incentivos para cuidarem da saúde; relação de gênero, com abordagens sobre questões ligadas diretamente as mulheres, como violência, direitos, preconceito; e a abordagem do pertencimento, com participações em atividades culturais e de lazer, em grupo, que buscam a integração e a cooperação.

Lei Municipal - O ato solene é uma exigência da lei municipal 3413, de 7 de abril de 2014, de autoria da vereadora Lilian Cabrera, que estabeleceu o Dia da Mulheres em Movimento. Ela conta que a criação da lei aconteceu depois de receber vários relatos de que o Programa corria risco de desmonte. "Em 2014 foi procurada por participantes da atividade que reclamavam do fechamento de salas de ginásticas, de falta de estrutura e de professores. Então, conjuntamente com as moradoras, veio a ideia de fazer a lei como forma de garantir a continuidade do Programa que é muito importante para Diadema", ressalta.

Outra forma de comemorar os 32 anos do Mulheres são as vivências que acontecem nas salas de aulas, desde o dia 9 de setembro último, quando voltaram as aulas presenciais. Em razão da pandemia, as classes funcionam em horários alternados, com cerca de 40% das alunas.

"Na verdade, são mais que aulas que estão acontecendo. São reflexões de toda a trajetória dos 32 anos do Mulheres, construída com muita resistência e resiliência", afirma a coordenadora do Programa, há 12 anos, Andreia Geraldo. Os professores estão conversando e fazendo o acolhimento de todas as alunas, depois de tanto tempo sem se reunirem por causa da COVID 19. "Haviam as aulas online, mas não é a mesma coisa que as presenciais", conclui Andreia.

Atualmente, o Mulheres em Movimento conta com 13 sala de ginásticas e 12 professores. O nome para o Programa foi escolhido, em 1989, pelas próprias participantes que também pensaram em uma logomarca para a atividade, simbolizada por duas figuras se movimentando. Antes disso, o Programa era somente uma atividade de ginástica feminina que acontecia desde o ano 1974 em Diadema.

"Para chegar até onde estamos hoje foi precisa muita luta e resistência", afirma uma das pioneiras Elza Neves Gomes, de 75 anos. Ela conta que tudo começou com uma reivindicação, um espaço para as mulheres fazerem ginástica, ao então prefeito da época. "Conseguimos, mas era um local muito pequeno. Depois, fomos para a Associação dos Funcionários Públicos, algum tempo depois não quiseram mais nós lá, fomos então para uma sala no Jardim Rosinha e aí as coisas foram caminhando, com o grupo crescendo, brigando por melhorias na saúde, na educação, até chegarmos ao patamar que é hoje". Elza finaliza dizendo que o Programa é como se fosse sua segunda pele. "Não largo o Mulheres de forma alguma e vou participar das atividades enquanto eu puder", ressalta.

A mineira Ozita Rodrigues dos Santos é outra moradora de Diadema que frequenta o Programa desde o início. "Para mim o Mulheres é muito importante. Representa alegria, é onde encontro minhas amigas, e as aulas de ginástica me trazem muita saúde e disposição", afirma.Aos 91 anos, Ozita conta com a vizinha Rosa para levá-la todas as quartas-feiras, às 7h, ao Parque Ecológico do Eldorado, para os exercícios físicos.