97% das mulheres de baixa renda têm medo de andar a pé, revela pesquisa

Andar a pé pelas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro parece cada vez mais difícil: 7 em cada 10 mulheres de baixa renda relataram que seus deslocamentos diários demandam uma caminhada de mais de 20 minutos e a quase totalidade dessas mulheres sente medo durante o trajeto, como revela um estudo inédito realizado pelo Instituto Locomotiva, a pedido da 99. Esse temor traz impactos reais no dia a dia delas, prejudicando o direito de ir e vir e, consequentemente, o desenvolvimento econômico delas. Conforme a pesquisa, 61% das entrevistadas já cancelaram compromissos devido à insegurança. A pesquisa foi lançada nesta quinta-feira, 7, em evento realizado em São Paulo, na Casa de Francisca, conduzido pela jornalista Adriana Couto e com a presença de aproximadamente 100 pessoas de diferentes segmentos.
O levantamento mostra que a maioria das mulheres de baixa renda se desloca intensamente pela cidade: 65%, ao menos cinco vezes por semana. E 69% delas andam a pé nesses deslocamentos. Metade sai de casa à noite ou de madrugada, horários considerados ainda mais inseguros para as respondentes.
Para Natacha Evelin, técnica de enfermagem e motociclista por aplicativo, o modal é uma opção de fonte de renda, mas também importante para facilitar a vida mas mulheres, especialmente as periféricas: “A felicidade de ser motorista de moto por aplicativo, por mais dura que a realidade na rua seja, é a tranquilidade de não sofrer abuso e transportar outras mulheres com segurança. É muito bom estar no controle”.
Sair e se deslocar a pé é uma tarefa necessária para o cotidiano das mulheres e praticamente todas elas (97%) fazem isso sob a sombra constante do medo. As maiores preocupações são assaltos (93%) e estupros (89%). Outras formas de abuso sexual também aparecem: importunação e assédio (85%) e olhares insistentes e cantadas (78%). Tanta preocupação impacta seriamente o público feminino, como explica Nana Lima, sócia e cofundadora da Think Eva e da Think Olga: “As consequências, para além do medo, são uma questão civilizatória, com a vida e a liberdade das mulheres sendo diminuídas”, afirma.
Impacto real
O medo nos deslocamentos a pé possui impactos reais para as mulheres de baixa renda. Rotinas, compromissos e até oportunidades de trabalho são afetados. De cada 10 mulheres, 6 já desistiram de ir a algum lugar por insegurança de caminhar. E 63% já se atrasaram para compromissos por ter que desviar o caminho.
“Imagine viver todo dia com medo de ir e voltar do trabalho. Pensem na angústia de uma mãe que vive insegura, sem saber se chegará em casa para pôr sua filha para dormir quando desce do ônibus e caminha pelo bairro. A cada passo, um medo diferente: assalto, estupro... Nossa pesquisa mostrou que as consequências negativas da insegurança são amplas: abala não apenas a saúde mental, mas também outras dimensões da vida social e o acesso a oportunidades de emprego. Ao evitar se deslocar em determinadas áreas e horários por conta do medo, essas mulheres têm sua liberdade cerceada, e podem estar perdendo compromissos importantes para sua vida pessoal e profissional”, afirma Renato Meirelles, Presidente do Instituto Locomotiva.
Como mudar essa situação
Hoje, deixar de andar a pé simplesmente não é uma opção. A maioria dessas mulheres não têm carro próprio e mais da metade já quis chamar um carro por aplicativo e desistiu por não ter dinheiro suficiente para pagar a corrida (54%).
A pesquisa aponta algumas soluções que vão além das óbvias políticas de iluminação das ruas e do policiamento ostensivo. Por exemplo: 8 a cada 10 entrevistadas afirmam que usariam moto por aplicativo para evitar andar a pé em ruas desertas ou esperar no ponto de ônibus. E 73% concordam que o transporte de pessoas via moto de aplicativo é uma alternativa que reduz a exposição aos riscos dos trajetos que fazem a pé.
“A moto é muito mais segura; não tem importunação. São infinitas possibilidades quando você anda a pé. A moto me dá uma segurança que eu não tenho em outros modais, além do preço”, explica Nathália Silva, usuária de moto por aplicativo.
Vale lembrar que a moto é um meio de transporte presente nas periferias e no cotidiano da maioria dessas mulheres: 71% já andaram de moto e 27% têm moto em casa. “Não existe solução que não parta de um entendimento profundo de uma realidade que, muitas vezes, não é conhecida nas regiões mais ricas da cidade. As mulheres de baixa renda estão acostumadas a andar de moto e consideram que a moto por aplicativo seria uma opção mais segura do que andar a pé no trajeto de ida e vinda de suas casas. É uma opção que cabe no bolso e dialoga com a realidade da periferia”, explica Irina Cezar, especialista em gênero e gerente sênior de Relações Governamentais da 99.
Ficha Técnica
O estudo Mulheres, Segurança e Mobilidade na Cidade foi realizado entre 20 de janeiro a 8 de fevereiro de 2024 com o objetivo de entender a realidade das mulheres e a segurança ao transitarem nas ruas. Foram ouvidas, presencialmente, 2.750 mulheres, maiores de 18 anos, que se deslocam pelas cidades pelo menos uma vez por semana, pertencentes às classes C, D e E. Das entrevistadas, 42% residem na capital paulista (SP), 34% na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e 24% na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
SOBRE O INSTITUTO LOCOMOTIVA
O Instituto Locomotiva trabalha para mostrar que existem pessoas e histórias por trás de cada número. Olhamos a fundo para a população que vive, consome e sonha no Brasil, para que nossos números tenham história e identidade. Com isso, transformamos resultados de pesquisas em conhecimento e estratégia, ampliando as possibilidades de empresas, instituições e organizações, contribuindo para a construção de identidade entre elas e seus públicos e gerando indicadores capazes de fomentar o debate público. Nosso trabalho é sermos porta-vozes da população e um farol para os dados que realmente importam.
SOBRE A 99
A 99, primeiro unicórnio brasileiro com 10 anos de atuação no país, é uma empresa de tecnologia que oferece conveniência e soluções para as necessidades dos brasileiros. O aplicativo faz parte da companhia global Didi Chuxing (“DiDi”) e, no Brasil, conecta 40 milhões de pessoas a serviços de mobilidade, pagamentos e entregas.